sab899.jpg

6262.png

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Maggie Cox

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Livre de culpa, n.º 899 - Maio 2016

Título original: His Live-in Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicadacom a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estãoregistadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8341-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Enquanto caminhava sobre a camada espessa de neve que cobria o caminho largo que conduzia à casa, acompanhada pelo rangido das suas botas novas, Liadan ficou assombrada pela beleza e pela grandeza do edifício imponente que se erguia perante os seus olhos, portanto parou um momento a admirá-lo. Envolvido num manto de neve brilhante, o seu exterior de pedra com quatro filas de janelas de estilo oitocentista abatia-se imperiosamente sobre ela. Pela primeira vez desde que decidira responder ao anúncio que marcara no jornal com tanta esperança, Liadan sentiu um desassossego leve mas impossível de ignorar.

Estaria a fazer o correcto? Seria capaz de aceitar o trabalho de governanta de uma mansão tão grande e imponente? Aquilo era muito diferente do hotel de tamanho médio, mas flexível que os seus pais tinham em Dorset.

Liadan tentou não se deixar vencer pelo pessimismo e começou a andar de novo para a casa com um andar decidido.

Quando levantou a aldraba de ferro e bateu duas vezes na enorme porta de madeira, o estrondo ressoou no ar gelado como o de um trovão.

Liadan enrolou o cachecol de lã cor de laranja na gola do seu casaco comprido de tweed enquanto imaginava que talvez algum mordomo grisalho e altivo lhe abriria a porta com arrogância e lhe pediria que desse a volta para utilizar a entrada de serviço. Com o seu habitual sentido de humor, Liadan sorriu só de pensar nisso.

Na verdade, a pessoa que lhe abriu a porta era uma morena magra, certamente com uns quarenta e tal anos, bem vestida com umas calças de ganga e uma camisola vermelha de gola alta. A mulher estendeu-lhe a mão sem hesitação para lhe dar as boas-vindas.

– Tu deves ser Liadan, não é? – sorriu. – Olá, eu sou Kate Broomfield. Falámos ao telefone.

A proprietária da voz agradável que recordava da conversa de há dois dias atrás não a decepcionou minimamente, e o seu alívio tornou-se evidente.

– Prazer em conhecê-la! Caramba, está tanto frio aqui fora – disse, enquanto apertava a mão a Kate com o mesmo calor.

Mais relaxada, Liadan passeou os seus olhos azuis pelo hall de entrada imponente onde a mulher morena a convidou a entrar, e ficou estupefacta ao reparar nos tectos altos com os seus candeeiros de bronze e os apliques para velas da parede.

– Não vi nenhum carro. Onde estacionaste? – perguntou Kate, enquanto a jovem tirava as luvas de lã cor de laranja e desabotoava o primeiro botão do casaco.

– Não vim de carro, vim da vila a pé.

– Que coragem, com o tempo que está! Além disso, é uma boa caminhada – Kate sorriu. – Mas claro, és da zona, não és? Embora imagine que saibas que o lugar é de interna. O senhor Jacobs insiste nisso.

– Eu sei. E não há problema.

Por um momento Liadan tentou absorver as implicações de viver numa casa tão majestosa, embora um pouco remota, e a alma caiu-lhe aos pés só de pensar em deixar para trás a sua casinha de campo. Claro que isso também era o lado bom de viver na zona. Nas tardes que tivesse de folga poderia voltar para casa e fazer o que fosse preciso. Talvez passado um tempo, quando conhecesse melhor o seu chefe, até a deixasse folgar uma ou outra noite para poder dormir na sua cama e tocar piano, além de, é claro, fazer alguns miminhos a Izzy, o seu gato. Para já, teria muitas saudades de não poder fazer essas coisas quando lhe apetecesse. No entanto, enquanto Jack, o seu vizinho, se ocupasse de dar de comer ao gato e lhe desse atenção de vez em quando, estaria descansada.

Nesse momento, tudo eram suposições. Não tinha o emprego garantido, e se não se mostrasse atenta e disponível talvez não lho dessem. O anúncio pedia uma mulher entre trinta e cinco e cinquenta anos, e Liadan só tinha vinte e sete. Kate dissera-lhe que não se preocupasse muito com isso. A mulher pensava que, se ela era a pessoa adequada para o trabalho, o senhor Jacobs se esqueceria dos limites de idade.

– Queres uma chávena de café antes de te apresentar Adrian?

– Adrian?

– O senhor Jacobs. Ao princípio, seguramente insistirá em que te dirijas a ele com a maior formalidade, mas passado um tempo tenho a certeza de que tu também acabarás por chamá-lo Adrian.

Por muito que lhe apetecesse beber algo quente, Liadan sentia que primeiro devia ir à entrevista. Talvez olhasse para ela e pensasse que era demasiado jovem para ser governanta de uma casa tão grande. Contudo, o que o senhor Jacobs não sabia era que ela ajudara os seus pais a dirigir um hotel pequeno, mas muito próspero e que estava habituada a trabalhar durante turnos muito longos e duros, sobretudo depois de o seu pai morrer e de ela e a sua mãe ficarem sozinhas.

– Se não te importares, primeiro preferia conhecer o senhor Jacobs. Vieram muitas candidatas para a entrevista de emprego?

– Vieram duas, mas nenhuma delas era a pessoa adequada. Segue-me. Esta manhã está ocupado com uns documentos, por isso não me parece que esteja com muito bom humor. Mas não te deixes intimidar por isso. É um chefe justo e o salário é bom, como deves ter reparado.

Liadan reparara. E essa fora a razão principal pela qual se candidatara. Isso e o facto de ficar muito perto da sua casa. Todavia, não conseguia deixar de se perguntar o que teria acontecido com as duas pessoas que a tinham precedido.

Kate ofereceu-lhe um sorriso confiante e bateu numa porta dupla de madeira escura que havia no final de um longo corredor. A seguir, uma voz profunda convidou-a a entrar e a mulher abriu a porta com dinamismo.

Com o coração apertado enquanto Kate anunciava a sua presença, Liadan entrou devagar atrás da morena. O seu olhar pousou-se com incerteza sobre o homem que estava sentado à secretária de estilo antigo e que nesse momento parecia estar a ler uma carta que tinha à frente. Quando levantou a cabeça para a examinar, os olhos quase pretos pareceram-lhe tão frios como a neve que lhe congelara os dedos dos pés. E, de algum modo, só de olhar para aqueles olhos, Liadan já não sentiu tanta segurança para se candidatar àquele emprego.

Adrian Jacobs tinha um olhar que congelaria o sol, e achava isso preocupante.

– Portanto, você é a menina Willow? – perguntou com um leve sorriso nos seus lábios firmes, mas de expressão dura, que pareceram inquietar um pouco mais Liadan. – Que tipo de nome é o seu?

Ela ficou um pouco tensa.

– Ao que se refere?

– Quero dizer se o inventou? É uma espécie de pseudónimo?

– Não, nem o inventei nem é nenhum pseudónimo: é o meu nome e não lhe posso dizer mais nada.

Mas quem julgaria que era, a gozar com o seu nome? Liadan duvidava muito do bom progresso da entrevista com um início tão pouco prometedor, mas disse para si que devia acalmar-se e decidiu não levar o seu comentário a mal.

Ele baixou os olhos de novo para a carta e pousou-a sobre a mesa para dar uma massagem nas têmporas. Então, como se acabasse de tomar uma decisão, voltou a olhar para ela com uma expressão mais decidida. Liadan sentiu um baque no coração. Tinha o nariz muito grande, as pálpebras cansadas e a sua boca tinha um ar muito severo que sugeria que sorria pouco. E no entanto, aquele cabelo preto espesso pintalgado com um ou outro cabelo cinzento, aqueles músculos que se adivinhavam sob a camisola cinzenta escura e aquela masculinidade que ele irradiava sugeriam uma força e uma rebeldia assustadoras.

– Parece um pouco jovem para se dedicar aos cuidados de uma casa. Quantos anos tem exactamente, menina Willow?

Seria a sua idade, além do seu nome, um ponto contra si? Enquanto desabotoava o segundo e terceiro botão do casaco, Liadan disse para si que devia permanecer calma.

– Tenho vinte e sete anos, mas por favor não se deixe influenciar por isso, senhor Jacobs. Passei vários anos a ajudar os meus pais a dirigir um hotel próspero em Dorset. O trabalho duro não me assusta, e fiz quase de tudo, desde cozinhar refeições de três pratos a arranjar um fusível e canalizações. A maior parte do tempo sou uma pessoa alegre e disponível.

– Disponível? – o senhor Jacobs franziu o sobrolho com uma expressão irónica.

Liadan corou.

– Queria dizer disponível para o trabalho – disse com um sorriso tímido.

– É claro que sim. E namorado, menina Willow? Se tiver namorado, não sente a sua falta se você vier para cá?

– Não, senhor Jacobs. Não tenho namorado.

– Então não se importa de ser interna?

– Não.

– Liadan vive na vila, Adrian – comentou Kate. – É uma rapariga da zona.

– É demasiado jovem e provavelmente não aguentará uma semana.

Liadan sentiu raiva ao ouvir as palavras do senhor Jacobs. Todavia, mordeu o lábio e continuou, disposta a permanecer inamovível.

– Senhor Jacobs, se quiser ouvir-me eu…

– Não tenho mais nenhum empregado em casa, menina Willow. Seria capaz de lidar bem com a solidão?

A solidão não a assustava. Uma pessoa podia estar sozinha e levar uma vida plena. Além disso, gostava da solidão.

– De qualquer modo vivo sozinha. Estou habituada – respondeu ela.

– Muito bem. Depois das outras candidatas decepcionantes que entrevistei esta manhã, talvez você seja mais adequada do que parece. Quando poderia começar? Kate parte amanhã para Londres e preciso de ter alguém em casa antes de ela se ir embora.

Estava a oferecer-lhe o emprego? Liadan olhou para ele com incredulidade.

– Bom, assim que precisar de mim, acho eu – respondeu um pouco nervosa.

– E referências…? Tem alguma?

Meteu a mão na mala para tirar duas cartas de recomendação que levara consigo. Uma era da sua mãe, bendita fosse, na sua anterior capacidade como chefe de Liadan, a outra era da Moonbeams, a pequena loja de esoterismo onde trabalhara desde há três anos, até falir há alguns meses.

Adrian levantou a mão para a deter.

– Dê a Kate. Ela vai mostrar-lhe o seu quarto, a casa e uma lista das suas tarefas diárias. Desejo confiança e discrição, menina Willow. Não gosto que me incomode sem uma boa razão, mas espero que esteja disponível sempre que eu precise de si. Terá uma tarde livre por semana além de dois fins-de-semana livres por mês. Tenho a certeza que já sabe qual é o salário. Deixo-a nas tuas mãos, Kate. E o que te parece se preparar um café quando estiver pronta?

– Trago-to quando tiver mostrado a Liadan o seu quarto – Kate sorriu.

– Está bem.

Segundos depois, antes de as duas mulheres saírem do escritório, ele já estava ocupado com o conteúdo da carta.

 

 

Kate dissera-lhe que era escritor, um autor de thrillers de muito êxito, que escrevia sob o pseudónimo de Alexander Jacobsen. Anteriormente, fora um jornalista famoso que informava sobre os conflitos internacionais por todo o mundo, e já então ganhara o respeito dos seus contemporâneos e do grande público. Liadan ficou surpreendida ao ouvir o que Kate lhe dizia. Já ouvira falar de Adrian Jacobs, mas o nome de Alexander Jacobsen era o que realmente chamava a atenção. Os seus romances sobre crimes alcançavam sempre o recorde de vendas. E embora aquele género não fosse um dos seus favoritos, o seu irmão Callum emprestara-lhe alguns dos seus livros e não os conseguira deixar até os acabar, por achá-los tão interessantes, embora também bastante sombrios.

– De vez em quando há jornalistas que tentam entrar em casa – continuou a dizer Kate, – mas uma coisa que deves ter muito presente é que Adrian não concede entrevistas sob nenhuma circunstância. Aconselho-te a respeitares a sua intimidade e a não divulgares nenhuma informação pessoal a ninguém. Comentou-se muito sobre ele no passado, e não precisa de mais problemas.

Instintivamente, Liadan soube que a relação deles seria um desafio para ela. Mesmo assim, isso não era algo que a preocupasse muito. Estava ali para levar a cabo um trabalho, um trabalho que lhe pagaria o dinheiro suficiente para viver e manter a sua querida casa de campo da vila. Não se atrevia a esperar mais nada.

Houve uma altura em que desejara conhecer um homem maravilhoso com quem ter filhos, mas desistira desse desejo. Depois de passar dezoito meses intensos a viver uma relação com um homem cujos conflitos espirituais a tinham impedido de ter uma relação íntima com a sua namorada, e que vira o seu trabalho na livraria esotérica quase como uma «comunhão com o Diabo», não tinha pressa em repetir a experiência. Estar com Michael deixara Liadan seca a nível emocional. Inicialmente, confundira a amizade com o amor, e nenhum sacrifício que fizera fora suficiente para Michael.

Mas isso já era passado. Nesse momento queria deixar o passado bem para trás e lavrar um futuro novo.

 

 

Na manhã seguinte, enquanto despia a sua roupa e a pendurava no enorme roupeiro de carvalho do seu quarto, parou um momento para espreitar pela janela a admirar a cena invernal pitoresca. A neve não caíra no Natal, mas naqueles primeiros dias de Janeiro os céus abriram-se repentinamente e cobriram tudo com um manto branco imaculado. Enquanto se perguntava como é que o seu novo chefe teria passado as férias, Liadan pensou no seu Natal solitário, apenas na companhia do seu gato Izzy. Sem dúvida fora por escolha própria. Não lhe apetecera apanhar um avião para Espanha para se reunir com a sua mãe e o seu novo amor, e depois da ruptura traumática com Michael não quisera sobrecarregar o seu irmão e os seus amigos com o seu mau humor. Não. Definitivamente, fizera bem em passar o Natal sozinha.

– Liadan, podes descer à cozinha quando acabares de arrumar as tuas coisas?

Abriu a porta e viu Kate Broomfield no corredor com as faces rosadas, como se estivesse sufocada.

– Claro que sim – respondeu.

– Quero rever tudo. Fiz umas listas, mas talvez tu queiras tirar algum apontamento. Bebemos uma chávena de chá, conversamos um pouco e digo-te tudo o que precisares de saber. Dentro de dez minutos?

– Já me falta pouco – disse Liadan.

– Muito bem. Lamento que seja tudo tão rápido, mas tenho que apanhar o comboio dentro de duas horas. Há três meses que ando a dizer a Adrian para entrevistar as pessoas, mas nunca me deu ouvidos. É assim, Adrian! Assim que começa a trabalhar parece que está noutro planeta. Mas bom, agora estás aqui tu e, se quiseres que te diga a verdade, acho que fez a escolha certa contigo. Alguém jovem como tu será uma rajada de ar fresco para ele… Bem, então vejo-te daqui a pouco.

E dito isso virou-se e desapareceu pelo corredor.

 

 

Enquanto se despedia de Kate pouco depois, Liadan sentia-se tão nervosa como uma mãe que acaba de chegar a casa com o seu bebé do hospital. A partir daquele momento o bom andamento daquela casa e do seu senhor seria responsabilidade dela.

Não voltara a ver Adrian desde a entrevista do dia anterior, e por muito que quisesse, não podia continuar a adiar ir vê-lo. Sem dúvida, Kate e ele deviam ter-se despedido em privado antes de Kate ir dizer a Liadan que se ia embora. Nesse momento, a sós no enorme hall de entrada, silencioso depois do eco da alegre despedida de Kate, Liadan olhou para o relógio e preparou-se mentalmente para levar uma chávena de café ao seu novo chefe. Aproveitaria para quebrar um pouco o gelo com ele desde a entrevista abrupta do dia anterior.

Minutos depois, com uma chávena de café e um prato de biscoitos digestivos numa bandeja, Liadan respirou fundo diante da porta do escritório de Adrian e bateu duas vezes com os nós dos dedos.

– Entre! – chegou a resposta seca do seu chefe. Aos seus pés, o chão estava cheio de papéis. O seu cabelo preto parecia despenteado, como se tivesse levado uma hora a passar a mão pela cabeça, e a expressão sombria do seu novo chefe tirou toda a confiança de Liadan, deixando-lhe as pernas fracas e trémulas, como as de um cordeirinho recém-nascido.

– O que se passa?

Tentando ignorar os batimentos fortes do seu coração, Liadan obrigou-se a sorrir e dirigiu-se a ele.

– Ocorreu-me que gostaria de beber um café – disse alegremente, esperando que ele não detectasse o leve tremor da sua voz.

– Deixe a bandeja em cima do piano, e por amor de Deus, não pise nenhum dos papéis que estão no chão!

 

 

Adrian observou os movimentos da sua nova governanta. A saia longa de tweed antiquada que enfeitava a sua figura esbelta combinava na perfeição com a camisola de lã de gola alta em tons de vermelho, cor de laranja e castanho que vestira. Como já não usava o casaco grosso nem o cachecol do dia anterior, reparou que o seu cabelo era acobreado ardente como as folhas no Outono, e que lhe caía até à cintura em madeixas onduladas e graciosas. Em algum lugar do seu subconsciente despertou uma recordação deliberadamente enterrada que lhe apertou o estômago com um espasmo de dor.

– Usa sempre o cabelo solto? – perguntou em tom brusco.

Ela, que nesse momento pousava a bandeja sobre a superfície de ébano brilhante do piano de cauda, virou a cabeça, surpreendida.

– A maior parte do tempo – disse, enquanto encolhia os ombros. – Excepto quando estou a trabalhar, claro.

– E agora não está, menina Willow? Ou esqueceu-se desse pequeno pormenor?

Ao ver o leve rubor das faces da jovem, Adrian sentiu uma mistura de frustração e de aborrecimento por a jovem ser tão bonita. Com os seus grandes olhos azuis e a sua cara de boneca de porcelana, era sem dúvida uma quebra-corações. Em que estava a pensar ao oferecer a tarefa que era essencial ao seu bem-estar àquela beleza de aspecto frágil? Precisava de alguém que respondesse bem, uma pessoa eficiente e de confiança, como Kate, não alguém que parecesse que ia partir-se ao ouvir uma voz áspera ou estridente.

Diabo! Porque é que Kate o deixara sozinho a meio do seu projecto mais ambicioso até à data? Não queria que ninguém o incomodasse continuamente com as suas perguntas, como sem dúvida aquela jovem ia fazer. Depois de quatro anos e meio, Kate conhecia praticamente todas as suas pequenas manias e as suas particularidades quando se tratava do modo como gostava de trabalhar, para não falar da comida, da música ou do que gostava de ler: as quatro coisas essenciais para que a sua vida decorresse sem contratempos.