Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Cathy Williams. Todos os direitos reservados.

ORGULHO E TENTAÇÃO, N.º 1387 - Maio 2012

Título original: In Want of a Wife?

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0290-2

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

CAPÍTULO 1

Louis Christophe Jumeau fechou com força a porta do Range Rover e olhou para ele, zangado. Não deveria ter confiado naquela agência de viagens, que dizia ser a única num raio de cem quilómetros. A falta de competência traduzia-se sempre num mau serviço. Deveria ter arranjado o seu próprio meio de transporte. Podia ter ido no seu helicóptero e ter mandado que um dos seus carros fosse buscá-lo ao heliporto.

Mas queria saber como se chegava a Crossfeld House. Lançou um palavrão, tirou o seu telemóvel do bolso e verificou que não tinha rede.

À sua volta, sob a escuridão invernal, o campo era inóspito. Além disso, ameaçava nevar. Se tivesse uma bola de cristal, teria sabido que o carro alugado morreria numa estrada abandonada das Terras Altas, a cerca de quarenta minutos do seu destino, e teria levado a ameaça mais a sério.

Tirou o casaco do banco traseiro do velho Range Rover e decidiu que a única agência de aluguer de carros num raio de cem quilómetros teria concorrência em breve. Se não, estava disposto a anular a compra.

Crossfeld House, a última aquisição para o seu património de hotéis no Reino Unido e no resto do mundo, era um investimento interessante, mas não indispensável. O seu principal atrativo era o campo de golfe, embora, pelos vistos, o estado do edifício fosse deplorável. Fora para isso que tinha ido até ali, para o verificar, para além de resolver outro assunto.

Enrolou-se no casaco para se proteger do vento frio de dezembro e começou a caminhar em direção à casa principal. Não conseguia deixar de pensar no problema que tinha pela frente e que esperava solucionar. Concretamente, tratava-se do fascínio de um amigo seu por uma rapariga que, de acordo com todas as descrições, fazia parte da categoria de caçadoras de fortunas. Embora não a conhecesse, Louis sabia reconhecer aquele tipo de mulheres: bonita, pobre e com uma mãe disposta a deixar que a filha fosse para o melhor licitador.

Sorriu satisfeito perante a ideia de aparecer à porta da família Sharp. Embora Nicholas fosse rico e tivesse sucesso, era muito inocente e crédulo. Talvez a senhora Sharp tivesse andado a gabar a filha com a esperança de que Nicholas, cujas visitas a Crossfeld House, com o pretexto de inspecionar o edifício, eram frequentes, acabasse por morder o anzol. Mas ele, Louis, não tinha nascido ontem. Nicholas era um amigo de toda a vida, cuja honra e conta bancária Louis tinha intenção de proteger.

Absorto nos seus pensamentos, só se apercebeu de que se aproximava uma mota quando estava quase em cima dele. O som dos travões no asfalto quebrou o silêncio e o condutor, vestido de preto e com um capacete da mesma cor, parou.

O que mais o incomodou foi aquela maneira arriscada de conduzir.

– Fantástico! – exclamou, com ironia, olhando para o condutor. – Diverte-se assim, não é? Acha que a estrada é sua e que pode conduzir à velocidade que quiser?

Lizzy ia tirar o capacete, mas parou e voltou a baixar as mãos.

De perto, aquele homem era mais forte e mais alto do que parecia, e estava muito zangado. Conhecia aquela zona da campina como a palma da sua mão, para além dos habitantes, e apercebeu-se em seguida de que era um estranho.

– Não precisava de parar por sua causa.

– Vai tirar o capacete para que possa ver com quem estou a falar?

Sozinha, numa estrada escura, rodeada de uma paisagem inóspita e com um homem capaz de a partir ao meio, não ia tirar o capacete. Preferia que pensasse que estava a falar com um homem de voz aguda.

– O carro ali atrás era o seu?

– Muito bem, Sherlock!

– Não tenho de ficar a ouvir isto – disse e acelerou algumas vezes, à espera de uma desculpa que não chegou.

Em vez disso, ele deu um passo atrás, cruzou os braços e dirigiu-lhe um olhar de curiosidade. Sob a luz da lua, conseguiu espreitar o seu rosto e conteve o fôlego.

Apesar do seu porte aristocrático, da sua arrogância e prepotência, aquele homem era muito atraente. Usava o cabelo escuro penteado para trás e adivinhavamse as feições de um rosto perfeito. Embora tivesse os lábios apertados, não era difícil imaginar que noutras circunstâncias seriam grossos e sensuais.

– Quantos anos tem? – perguntou Louis, de repente.

A pergunta apanhou Lizzy desprevenida e ficou calada alguns minutos, tentando adivinhar onde queria chegar com aquela pergunta.

– Porquê? O que lhe interessa?

– És um rapaz, não és? É por isso que não queres tirar o capacete, não é? Os teus pais sabem que andas a conduzir essa máquina como um louco, pondo a vida dos outros em perigo?

– Só está aqui você – murmurou. – E se quer viajar por esta zona, é melhor que o faça num veículo mais fiável.

– Diga-o ao descarado da empresa de aluguer de carros que há junto da estação.

– Ah…

Fergus McGinty tinha fama de se aproveitar dos forasteiros na hora de lhes alugar carros. Duvidava que aquele Range Rover tivesse prestado algum serviço desde o início do século.

– É teu amigo, não é? – perguntou Louis, cada vez mais zangado. – Portanto, certamente saberá de quem estou a falar quando lhe disser que um adolescente de mota… Isso faz-me pensar que não tens outra opção senão levar-me onde quero ir. Ou o fazes, ou não terás outro remédio senão responder perante a polícia por conduzires essa mota sem teres a idade legal para o fazer.

Lizzy estava prestes a rir-se à gargalhada. Sim, a sua voz aguda fizera-o tirar uma conclusão errada e estava a ser muito divertido. Mas, por algum motivo, não lhe parecia que aquele homem fosse reagir bem às suas gargalhadas. Pela maneira de se comportar, devia ser ele quem habitualmente se ria dos outros.

– Não pode deixar o carro ali – objetou.

Louis olhou à sua volta, fazendo um gesto exagerado, antes de cravar os olhos pretos no capacete.

– Porquê? Achas que há gente escondida na vegetação à espera de o roubar? Francamente, se alguém for suficientemente estúpido para o levar, então, que o faça. Faria um grande favor ao mundo.

Lizzy encolheu os ombros.

– Para onde vai?

– Desce dessa mota e vais ver.

– Desço da mota? Do que está a falar? Pensei que tinha dito que eu o levaria.

– Disse isso? Devo ter-me expressado mal. Porque haveria de pôr a minha vida em perigo numa mota conduzida por um miúdo que deveria estar em casa a estudar?

– Posso deixá-lo aqui.

– Se fosse a ti, não exporia essa possibilidade.

Lizzy sabia reconhecer uma ameaça quando a ouvia.

– Para onde vai? – repetiu. – Se não ficar no meu caminho, vai ter de esperar aqui até que mande alguém vir buscá-lo.

Louis esteve prestes a rir-se ao ouvir aquilo. Mandar alguém vir buscá-lo? Para começar, estava farto da campina escocesa. Além disso, havia poucas probabilidades de que aquele rapaz cumprisse o seu dever cívico. Seria muito mais simples arrancar e deixar ali aquele forasteiro.

– A sério? Bom, devo dizer que não estou de acordo. Vou para Crossfeld House e irás comigo.

Crossfeld House! Lizzy ficou petrificada.

– Sabes onde fica, não sabes? – acrescentou Louis, impaciente. – Não creio que haja muitas casas com campos de golfe neste canto do mundo.

– Sei onde fica. Porque vai para lá?

– O quê?

– Apenas me perguntava porque quer ir para lá, uma vez que não poderá ficar. Está à venda. Não creio que continuem a alugar quartos. E, se for por causa do golfe, o campo não está em boas condições.

– Ah, sim? – perguntou Louis, olhando para aquela figura que se chegava para trás para que ele se sentasse na mota. – Deveria deixar os tacos no carro?

– Sem dúvida. Sabe andar de mota?

– Já vais ver. Eu não gosto de arriscar a minha vida às mãos de outra pessoa.

Ligou a mota e desfrutou do rugido do seu motor. Há muito tempo que não andava de mota. Esquecera como podia fazê-lo sentir-se livre e poderoso. Seria uma viagem agradável, tendo em conta que pretendia arrancar toda a informação possível ao seu passageiro. As conversas com Nicholas limitavam-se a ouvir o seu amigo a falar das qualidades da jovem Sharp, intercaladas com alguns pormenores básicos sobre a propriedade. Mas aquele rapaz conhecia a zona e, provavelmente, a família Sharp. Além disso, quem não gostava de mexericar? Num lugar como aquele, devia ser o entretenimento geral.

– Portanto – gritou Louis, para se fazer ouvir por cima do som do motor, – se conheces Crossfeld House, então, deves conhecer o agrimensor, Nicholas Talbot.

– Mais ou menos. Porquê?

Lizzy agarrou-se a ele. Não estava vestido para andar de mota e o casaco esvoaçava-lhe, através do qual podia sentir os músculos do seu corpo. Era evidente que sabia andar de mota pela maneira como a conduzia.

– Vim ver o que tem andado a fazer. Deveria ter enviado relatórios sobre o estado da casa, mas as suas informações foram muito escassas.

– A sério? Quem é você, o seu chefe?

– Algo parecido.

– Veio verificar o que esteve a fazer? – perguntou Lizzy, incomodada. – Isso é horrível. Nicholas tem trabalhado muito.

– Conhece-lo?

– Não o conheço muito bem, mas… É uma cidade pequena e Nicholas tornou-se um membro muito conhecido da comunidade.

– Sabes se tem amigos, se sai com alguém?

– Sim, acho que está interessado numa rapariga da zona – disse Lizzy, gritando para que ouvisse a sua voz.

Ainda tinha de descobrir como se chamava o homem ao qual se agarrava, mas, pelo menos, sabia que não era perigoso. Mas perderia Nicholas o seu emprego porque não enviara relatórios diários a alguém que era maníaco pelo controlo?

– Ele disse-me algo do género – disse Louis, tentando que a sua voz soasse neutra.

Lizzy pensou em arranjar alguma desculpa para justificar a desorientação de Nicholas, mas afastou a ideia porque sabia que ele nunca o faria. Era muito tranquilo e pacífico. Provavelmente, começaria a gaguejar e acabaria por garantir a sua demissão. O condutor da mota parecia dedicar-se a despedir pessoas. Talvez fosse alguém que tinham mandado para verificar a situação.

– O que é que ele disse? – perguntou Lizzy.

Tinha deixado de conduzir tão depressa e Lizzy apercebeu-se de que já não tinha de gritar tão alto. A estrada podia ser escorregadia, escura e perigosa, a menos que a conhecesse.

– Acha que está apaixonado – disse Louis, com um sorriso cínico.

Lizzy sentiu-se invadida por uma sensação de hostilidade. O amor e o casamento não eram tudo para ela, mas eram-no para a sua irmã. Rose estava loucamente apaixonada por Nicholas Talbot e incomodavaa o tom depreciativo com que aquele homem estava a falar de uma situação que desconhecia.

– Ah, sim? – perguntou, com frieza.

– Pelo que pude deduzir, está apaixonado por alguém que está atrás do seu dinheiro – disse Louis, sem rodeios.

Se aquele rapaz soubesse alguma coisa, contar-lhe-ia.

Louis estava farto de caçadoras de fortunas. Aos dezanove anos, fora alvo de uma mulher de vinte e cinco, pela qual acreditara estar apaixonado. O amor ficara reduzido a nada, assim como as lembranças.

Cada vez que pensava em Amber Newsome, nos seus olhos azuis grandes, nas suas lágrimas e na maneira como o tinha convencido de que estava grávida, não conseguia evitar estremecer. Tinha-o cativado com o seu aprumo numa altura em que as outras raparigas da universidade se dedicavam a fazer os seus jogos e, durante uma temporada, tinha desfrutado daquela relação. Até que tinha decidido continuar com a vida dele. Não tinha reparado no facto de que talvez ela não estivesse preparada para o deixar ir.

Naquela época, ainda não tinha aprendido que não devia falar da sua riqueza. Pagara o preço: três meses de stresse, a pensar que teria de se casar com uma mulher que já não amava, para acabar por descobrir que fora enganado por uma perita.

E, quando pensava na sua irmã mais nova, Giselle, e na maneira como estivera prestes a ser extorquida por um conhecido da família, era-lhe impossível ouvir tudo o que se dizia do amor e do romantismo.

Nicholas era menos cético e, portanto, suscetível de cair nas malhas de qualquer mulher que fosse atrás do seu dinheiro.

– Como sabe? – perguntou Lizzy, sentindo os batimentos rápidos do seu coração.

– Sou perito a ler entrelinhas – disse Louis. – Uma atriz madura empenhada em casar as suas filhas é quase um clichê.

Não gostava de confiar em qualquer um, mas, naquele momento, estava a fazê-lo de propósito. Pelo seu silêncio, tinha a certeza de que conhecia a família em questão.

– Certamente, já ouviste falar deles – continuou Louis. – Trata-se da família Sharp.

– Isto é uma vila – murmurou Lizzy, enquanto Louis sorria, satisfeito. – Foi Nicholas, quer dizer, o senhor Talbot, que lhe contou tudo isso?

– Como já disse, sei ler entrelinhas.

– E, pelo que estou a ver, também sabe julgar as pessoas. Nem sequer conhece essa família e já tem uma opinião deles.

Mais adiante, começavam a ver-se as primeiras casas dos subúrbios. Naquela zona, a terra não era um luxo e havia bastante distância entre elas. Toda a gente se conhecia e a vila era bastante animada, tendo em conta o seu tamanho. Ao fundo, viam-se as águas tranquilas e escuras de um dos lagos mais pequenos, e, à esquerda, sobre uma colina, localizava-se Crossfeld House.

Para Lizzy, sempre fora um edifício em ruínas, apesar das tentativas que tinham feito ao longo dos anos de lhe devolver a vida. Os proprietários atuais não eram da vila. Eram empresários ricos de Glasgow, golfistas que, segundo os rumores, o tinham comprado precipitadamente e tinham perdido o interesse em seguida porque não tinham o tempo necessário para o restaurarem. Portanto, o edifício continuara a deteriorarse, até que fora adquirido por um novo comprador há três meses.

– Tem de virar na próxima à esquerda – disse, indicando o caminho para Crossfeld House. – E tem de ir muito devagar. O caminho não está em bom estado.

– Vives muito longe daqui?

– Não se preocupe comigo. Sei voltar para casa.

Pela primeira vez desde que se sentara na mota, Louis olhou à sua volta. Respirava-se tranquilidade e o silêncio da solidão. Para ele, não havia nada pior do que uma estadia prolongada num sítio onde encontrar rede telemóvel era uma aventura. Mas tinha a certeza de que haveria muita gente para quem aquela tranquilidade seria uma maneira de relaxar da agitação da cidade.

O golfe nunca fora um desporto que Louis considerasse apaixonante. Preferia outros, que fizessem trabalhar o coração. Mas havia muitos golfistas e tinha a certeza de que Crossfeld House poderia tornar-se uma mina de ouro. Teria aquela atriz madura pensado o mesmo de Nicholas?

Havia mais algumas coisas que Louis esperava averiguar através do seu passageiro.

– O que pensam as pessoas da vila da compra de Crossfeld House? – perguntou, mudando de assunto.

A verdade era que sentia curiosidade.

– Que seria bom se a casa fosse restaurada – respondeu Lizzy, friamente. – Está há muito tempo num estado deplorável. Mas, claro, não pode garantir-se que vá ser como antes.

– O que queres dizer com isso?

– Quero dizer que o facto de alguém ter dinheiro não é garantia de que vá ser um sucesso.

– Referes-te a alguém como Nicholas?

– Não sei onde quer chegar.

– Nicholas não é o comprador – disse Louis. – Embora seja verdade que tem dinheiro, motivo pelo que, sem dúvida, estão a tentar apanhá-lo. O facto é que Nicholas é o agrimensor encarregado de dar uma olhadela ao sítio para se certificar de que não vem abaixo antes de se assinar o segundo cheque.

– Quem é você?

– Surpreende-me que não mo tenhas perguntado antes.

Não o perguntara antes porque estava demasiado ocupada a sentir aversão por ele.

– O meu nome é Louis Jumeau e sou quem financia esta pequena aventura.

Agarrada ao seu corpo musculado, fechou os punhos e os batimentos do seu coração aceleraram.

– Nicholas é um grande amigo meu – continuou Louis. – Crescemos juntos e todos os que nos conhecem dizem que o protejo demasiado. Sei mais a respeito de caçadoras de fortunas do que ele.

Aproximavam-se da casa. Destacava-se na paisagem, embora a luz do dia evidenciasse o seu estado lamentável. À volta estendia-se o campo de golfe, sobre o qual Louis tinha as suas dúvidas de que a luz do dia revelasse todo o seu esplendor.

Tinha muita experiência em construção, apesar de ser um negócio pelo qual só recentemente começara a interessar-se. Para além da fortuna que tinha herdado, também tivera sucesso no mundo das finanças. Aos trinta anos, tinha atingido o ponto de poder escolher onde queria investir o seu dinheiro e nunca tinha cometido um erro ao fazê-lo.

– É um edifício impressionante – murmurou, travando até parar.

– Sim, é.

Segundo as suas contas, veria Louis Jumeau mais frequentemente do que gostaria. Com a intenção de incitar o romance entre Rose e Nicholas, a sua mãe, a temível senhora Sharp, tinha organizado um baile na Câmara Municipal para todos os peixes graúdos da zona. Além disso, Nicholas levaria as suas irmãs, um pequeno inconveniente que Louis descobriria em breve.

Lizzy sentiu vergonha do que prometia ser uma noite de pesadelo. A sua mãe não era uma caçadora de fortunas, mas tinha interesse em que Rose se casasse com alguém estável a nível financeiro. De facto, era o que sempre tinha desejado para todas as filhas.

Fizera o esforço de vir a casa de Londres e faltar uma semana às aulas para conhecer Nicholas, de quem tinha ouvido falar muito. A sua chegada tinha coincidido com a de um anjo de um metro e oitenta, cuja missão era proteger o melhor amigo das garras de uma mulher inapropriada.

E ainda não tinha ideia de quem ela era! Não era uma circunstância que fosse durar muito tempo. Assim que contasse que um motoqueiro desconhecido o tinha resgatado dos perigos dos campos gelados escoceses, exporia a sua identidade.

Lizzy desejou queixar-se em voz alta.

– Quanto tempo demorarás a chegar à tua casa?

Virou-se para ela e Lizzy sentiu novamente uma sensação sufocante ao olhar para a cara dele. Por uma vez, o seu espírito lutador e a sua atitude otimista tinhamna abandonado, impedindo-a de pensar com clareza.

Suspirou, resignada, e começou a desapertar o capacete.

– Portanto, finalmente vais revelar-te? – perguntou Louis, com ironia. – Fazes bem. Mais cedo ou mais tarde, teria descoberto quem és, mas não te preocupes, não direi aos teus pais que estavas a conduzir muito…

Ocupado a pensar numa maneira de ir buscar os seus pertences ao carro alugado e a fazer conjeturas sobre o estado em que se encontraria a casa, ficou petrificado ao ver aquela cabeleira escura a cair ao tirar o capacete.

Pela primeira vez na sua vida, Louis Christophe Jumeau ficou sem palavras. Estava convencido de que se tratava de um rapaz. No entanto, à frente dele tinha uma mulher que o olhava de forma desafiante, de traços finos e com o corpo magro de uma bailarina.

– Não és um rapaz – ouviu-se a dizer.

– Não.

– És uma rapariga que anda de mota.

– Sim, gosto de motas.

– Porque não mo disseste antes? – perguntou, com tom acusador.

– Porque deveria tê-lo feito? O que teria sido diferente? Além disso – disse, recordando com raiva a arrogância e o desprezo com que falara da sua família, – tinha interesse em saber o que tinha a dizer do seu amigo.

Por um instante, Louis perguntou-se se seria ela o alvo da teimosia de Nicholas, mas afastou aquela ideia em seguida. Nicholas falara de uma beldade loira, de caráter doce e afável. A mulher que tinha diante dele não correspondia àquela descrição.

– Conheces aquela mulher, não é?

Lizzy decidiu ignorar a pergunta.

– É a pessoa mais arrogante, prepotente e insuportável que já conheci na minha vida.

A sua mãe matá-la-ia por dizer aquilo. Grace Sharp estava ansiosa pela chegada daquele homem. Tinha ouvido falar muito dele, da riqueza fabulosa e do seu estatuto, e estava desejosa de o conhecer. Para além de Nicholas, ele seria o convidado principal da festa e a razão pela qual muita gente iria.

– Não posso acreditar no que estou a ouvir…

– Não conhece as pessoas daqui e já está a fazer juízos de valor sobre elas. É um snobe, senhor Jumeau, e não suporto snobes.

– Senhor Jumeau? Deveríamos tratar-nos por tu, dadas as circunstâncias. E talvez devêssemos continuar esta conversa lá dentro. Está muito frio.

Outra madeixa de cabelo caiu sobre a sua cara e ele viu, fascinado, como a afastava.